UM CRENTE PODE TER AMIZADE COM UM DESCRENTE?
Encontramos no primeiro
verso do salmo 1 a seguinte descrição:
Bem-aventurado
o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos
pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.
Não ande (no conselho
dos ímpios), não se detenha (no caminho dos pecadores), nem se assente (na roda
dos escarnecedores) – O que nós temos neste verso é o que podemos chamar de uma
progressão da maldade. Alguém andando no conselho, parando no caminho e assentando-se
na roda. Temos aqui um recurso linguístico, uma figura de linguagem para
mostrar o homem se afundando cada vez mais no lamaçal.
As
três classificações: “ímpios”, “pecadores” e “escarnecedores” se referem ao
mesmo grupo de pessoas, aquelas que não conhecem a Deus e são rebeldes a sua
vontade. O propósito do autor neste salmo é descrito de maneira poética, por
isso é um pouquinho difícil de perceber bem, mas com esta progressão, ele
deseja abranger a vida inteira de um ímpio. Mas neste texto trabalharemos
apenas um aspecto.
“Não ande no
conselho dos ímpios” - A ideia do texto não é que você não participe de nenhuma
conversa que envolva ímpios. Não se trata de um simples não dar ouvidos a
opinião de um incrédulo. Não significa que alguém que não é crente nunca possa dar
um bom conselho. Não é este o ensino que o texto quer defender. A ideia é muito
mais forte e ampla. Talvez para que possamos ter uma noção melhor devamos
substituir a palavra “conselho” que aparece no verso 1 por “desígnio” ou “propósito”.
O que o verso quer nos ensinar de fato é que devemos ter
cuidado de não compartilhar dos mesmos anseios, ter os mesmos alvos, as mesmas
metas, os mesmos objetivos, a mesma vontade e a mesma razão de viver dos
incrédulos. Não andar nos conselhos dos ímpios, não se trata de uma proibição
ao diálogo amigável, na verdade significa não andar segundo o palpitar do
coração do ímpio. Logicamente que reconhecemos a influência negativa que alguém
pode ter sobre outra, mas de fato, o texto se refere a algo mais sutil e importante. Trata-se de compartilhar das mesmas afeições de alguém que não conhece a Deus. Sendo assim,
entendo que a amizade com os descrentes não é o cerne da questão neste texto como tão popularmente se apregoa.
O salmo 33 pode lançar luz sobre o texto que estamos
meditando. Sl.33:10,11
O
SENHOR frustra os desígnios (É a mesma palavra de conselho do salmo 1, ou seja, vontade)
das nações e anula os intentos dos povos.
O
conselho do SENHOR dura para sempre; os desígnios do seu coração,
por todas as gerações. (Neste verso observamos a palavra conselho sendo usada como sinônimo de desígnios)
A
palavra “conselho” no salmo 1 traz a tona o que está no coração, mas não foi ainda
colocado em prática. Note que o primeiro cuidado que devemos ter é com o nosso coração
e mente. O primeiro “não” que precisamos conceder é para os apelos do mundo que
atingem como uma flecha o nosso coração, que abalam os nossos desejos. A
primeira batalha que precisa ser vencida é no campo dos sentimentos e emoções,
no campo dos desejos.
Não
permitamos que nosso coração seja um solo fértil para o pecado. As ideias e as
tentações que se escondem no lugarzinho mais escuro da nossa alma, onde as
pessoas não podem ver, devem ser extirpados. Não podemos andar de mãos dadas
com os desejos pecaminosos, com vontades deturpadas, amando as coisas que o
mundo oferece. O que o autor nos afirma é que jamais poderemos ser felizes,
enquanto continuarmos sentindo o mesmo que aqueles que não conhecem a Deus
sentem.
E
quanto a pergunta: Posso ou não posso ter amizade com descrentes? Minha resposta é a seguinte: Não uso mais o salmo 1 para defender de maneira objetiva que não possa haver esta possibilidade, mas creio que
vários outros textos bíblicos são claros quanto a esta questão, como por
exemplo, 2 Co.6:14-18. Uma outra questão importante é a definição de amizade. Creio que possa haver coleguismo, mas amizade real e profunda creio ser muito improvável, por não partilharem dos mesmos valores, prioridades e principalmente por não amarem o mesmo Senhor.
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