ENTENDENDO O SUICÍDIO


            Há alguns anos atrás, o Henrique marcou uma conversa comigo para tirar suas dúvidas doutrinárias. Eu, na minha inocência achava que se trava de duas ou três questões, mas ele levou uma pequena lista de 15 perguntas. Quando ele começou, me senti na cadeira de um exame doutrinário. As perguntas variavam desde a questão da Criação e Evolução, até dons carismáticos. Dentre suas questões estava à pergunta: o que a Bíblia diz a respeito do suicídio? Não quero com este texto afirmar, nem por um segundo, que ele já estava pensando em suicídio, creio que de fato não era isto, pois este ponto foi o menos discutido. E no decorrer de nossa amizade tratamos de diversas questões e esta certamente foi só mais uma. Lembro que apesar da seriedade das perguntas, tratávamos de todas estas questões de maneira bem “light”. Ele dizia: “está fazendo seminário, agora aguente.”

Alguns crentes também têm me procurado após a tragédia e demonstrado as mesmas dúvidas em relação ao suicídio. Certamente, com a situação difícil que estamos vivenciando após a morte de Henrique a questão exige alguns importantes esclarecimentos.

Gostaria de começar este post afirmando que a salvação é uma dádiva (dom) de Deus Ef.2:8,9.  Salvação não se obtém por obras, não é uma conquista ou um prêmio por bom comportamento. Se dependesse de nós estaríamos destruídos completamente.

            Nunca esqueça que aqueles que foram salvos pela graça ainda continuam vivenciando diariamente uma batalha contra o pecado. O crente apesar de ter um novo coração, continua a lutar contra a sua natureza caída e seus efeitos. Gl.5:17 (A carne milita contra o Espírito). O filho de Deus não é mais escravo, ou seja, não é mais obrigado a agir de acordo com a natureza pecaminosa, mas ainda está sujeito a velha natureza. É por isso que a Bíblia adverte: “Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia.” (I Co.10:12) O próprio apóstolo Paulo nos mostra um feixe de sua batalha em Rm 7:15-20:

Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. Neste caso, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim.

            Se você leu com atenção esta citação, certamente entendeu que podemos cometer erros mesmo sendo crentes. Ou seja, podemos pecar mesmo sendo habitados pelo Espírito Santo. Quando somos salvos não obtemos a garantia de que não pecaremos mais. Sim, recebemos a permissão e a promessa de que se vigiarmos e combatermos o pecado com unhas e dentes, poderemos com o poder do Espírito Santo ter várias e grandiosas vitórias.

            Infelizmente todos os crentes, refiro-me a NÓS, continuam cometendo erros, e suas consequências são diversas. Alguns erros podemos concertar, mas outros são fatais e irreparáveis.  Este é o caso do suicídio, um pecado motivado por um leque amplo de razões. Não significa que alguém que comete suicídio não confia em Deus. Não significa que alguém que comete suicídio está evidenciando que nunca foi crente. Significa somente que é um pecador, que por não ter o corpo glorificado ainda, está sujeito as enfermidades e angústias desta vida terrena. Stress, depressão, síndrome do pânico etc. Poderia descrever uma lista grande de mazelas que todos nós estamos sujeitos, isto mesmo, todos nós estamos sujeitos.
           
Sei que falar deste tema é um grande tabu social, mas é importante tratar para aliviar muitas almas que estão sobrecarregadas neste momento. De fato, Satanás tenta aumentar a nossa dor por meio de conceitos teológicos errados que aprendemos em religiões opressoras. 

Renato Vargens[1] afirma numa publicação que o suicídio é a consequência DIRETA de uma perturbação psíquica/física. Ele afirma que a tensão nervosa que envolve o individuo, os problemas vividos no cotidiano, além da frágil capacidade emocional de suportar pressões corroboram para o desejo de tirar a própria vida. Eu incluiria o efeito de remédios psiquiátricos que misturados com certas situações, se tornam um verdadeiro "coquetel molotov".  
Infelizmente, e eu reafirmo, infelizmente, uma grande parcela das Igrejas evangélicas ainda acreditam que aquele que comete suicídio está selando o seu triste destino eterno. O suicídio desta maneira assume para alguns a posição de fiel da balança em relação ao destino da alma do crente, ou seja, a morte de Cristo perde de maneira incrível sua eficácia. Gostaria que pudéssemos enxergar que grandioso erro. O destino final de um suicida crente não é o inferno, pois Cristo já pagou por este seu pecado.
Segue abaixo uma abordagem bem consistente sobre o assunto do pastor Renato Vargens.
“A Bíblia ensina que a partir do momento no qual a pessoa verdadeiramente crê em Cristo, ela está eternamente salva (João 3:16). De acordo com a Bíblia, os cristãos podem ter certeza, sem sombras de dúvida, que têm a vida eterna, não importa o que aconteça. “Estas coisas vos escrevi a vós, os que credes no nome do Filho de Deus, para que saibais que tendes a vida eterna, e para que creiais no nome do Filho de Deus” (I João 5:13). Nada pode separar o cristão do amor de Deus! “Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, Nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor” (Romanos 8:38-39). Se nenhuma “criatura” pode separar um cristão do amor de Deus, e um cristão que comete suicídio é uma “criatura”, então nem mesmo o suicídio pode separá-lo do amor de Deus. Jesus morreu por todos os nossos pecados... e se um cristão verdadeiro, em tempo de crise e fraqueza espiritual, cometer suicídio – também este é um pecado pelo qual Cristo morreu." (1)
Caro leitor, antes que você emita qualquer parecer é certo que todos concordamos que nenhuma pessoa em sã consciência e raciocínio tiraria sua própria vida e, quando isso ocorre, é um ato irracional de uma pessoa que está com algum distúrbio mental. Isso nos leva a outra pergunta: Pode o cristão sofrer de doença mental? É claro que sim e eu pessoalmente conheço inúmeros casos. Embora alguns especialistas argumentem corretamente que a mente humana é abstrata e, portanto, não pode adoecer, o cérebro é uma entidade concreta e está sujeito às enfermidades físicas. As teorias sobre insanidade lidam com a diferença entre o órgão físico e os pensamentos que ele "processa", mas um fato é irrefutável — desequilíbrios químicos no cérebro comprovadamente provocam comportamento irracional, chegando até e incluindo o suicídio.
Alguns cristãos estão entre aqueles que sofrem do distúrbio bipolar (são "maníacos-depressivos") e precisam tomar medicamentos (à base de lítio, etc.) para controlar a enfermidade. Depressão severa e pensamentos sobre suicídio, junto com "vozes" que incentivam a pessoa a se matar são características trágicas dessa doença mental. Se não for diagnosticada ou tratada, ela pode levar os indivíduos a cometerem atos impensáveis, mas fique descansado que quando isso acontece com um dos filhos de Deus, eles nunca estão sob o risco de perderem a salvação.”
Aproveito para te lembrar que nem precisamos ter grandes desvios de ordem química para que cometamos atos insanos. Quantos já se iraram a ponto de falar o que não deveria, de agir da maneira que não deveria. Uma simples raiva já nos leva a extremos impensados. Alie a raiva ou tristezas a razões de ordem químicas e está montado o cenário. Todos nós precisamos ser vigilantes no que concerne a nossa saúde mental e espiritual. É por isto que o estilo de vida que a Bíblia ensina é tão valioso. Por exemplo: Guardar um dia de descanso, certamente te ajudará a renovar as forças e colocar o espírito agitado em ordem. Mas quantos estão seguindo estes preceitos eternos?
Logicamente que não estou advogando a favor do suicídio, creio que este ponto já deve ter ficado bem claro. Suicídio é pecado. Mas não é um pecado mais poderoso que um assassinato, estupro, roubo etc. E quantos ex-ladrões (lembra do ladrão na cruz?), ex-pedófilos, ex-assassinos já se converteram e estarão no céu? Todo pecado, veja bem, TODO PECADO, passado, presente e futuro foi pago na cruz de Cristo, isto certamente inclui o suicídio de Henrique Klein.
Espero ter ajudado.

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